segunda-feira, 21 de março de 2022

O Cruzeiro do Sul na Divina Comédia

 


          Sempre que leio os versos abaixo da Divina Comédia, fico pensando na origem dos conhecimentos científicos de navegação astronômica dos florentinos, há quase dois séculos antes das grandes viagens portuguesas pelas costas africanas e das precisas descrições feitas por Américo Vespúcio das constelações estelares observadas no hemisfério sul:

 

                    À destra me volvi, e, bem à frente

                    Do polo austral, fitei as quatro estrelas,

                    não vistas mais que da primeva gente.

                                                                         (Purg. I, 22/24)

 

                    Após olhá-las, procurando o lado

                    de seu contrário polo, em cujo teto

                    não estava o Carro, deslocado,

                                                                         (Purg. I, 28/30)

 

          Nestes versos, Dante, ao emergir das profundezas do inferno viu o céu pontilhado de estrelas e, de frente para o polo austral, fitou o Cruzeiro do Sul (as quatro estrelas) e ao virar-se para o seu polo contrário (polo Norte), observou que a constelação da Ursa Maior (O Carro) não estava deslocada, ou seja, começava a ser visível. 

          Temos poucas informações históricas sobre viagens para o hemisfério sul antes da Idade Média.  Em geral são registros baseados em relatos da tradição oral, como, por exemplo, o chamado “Périplo de Hannon”.  Esta viagem é descrita em grego em um documento apócrifo e relata a viagem de do navegador cartaginês Hannon que em 470 AC atravessou as colunas de Hercules (Estreito de Gibraltar) e navegou para o Sul, explorando as ilhas Canária e Cabo Verde, chegando ao fundo do Golfo da Guiné. 

          Outro relato interessante é feito por Heródoto em sua História, conhecido como o “Périplo da Líbia”. Em 600 AC. 

          Neste périplo, o Faraó Necós queria provar que a Líbia (como a África era conhecida) era cercada pelo mar, salvo em sua fronteira com a Ásia.  Assim ordenou que navegadores fenícios partissem do Mar Eritraios (Mar Vermelho), navegassem pelo Mar do Sul (Oceano Índico) e depois de contornar a Líbia, navegassem para o Norte para finalmente atravessar as colunas de Heracles chegando ao Egito, em uma viagem que levou três anos. 

          Uma observação interessante feita por Heródoto foi: “De volta, eles contaram (nisso eu não posso crer, mas outros podem) que enquanto completavam o périplo da Líbia, tinham o sol à sua direita”.  Ou seja, no Norte.  Lembramos que no hemisfério Sul, o sol vai de leste para oeste pelo Norte. No hemisfério Norte, pelo Sul. 

          Voltando à Divina Comédia, encontramos muitas informações, como o encontro de Dante com seu antigo professo Brunetto Latini (Inf. XV, 25/118) que lá estava, condenado a andar sempre de costas por “pecar contra a Natureza”. 

          Na despedida, os últimos versos foram as palavras de Brunetto:

          O meu Tesouro, pois te recomendo

          Que é minha vida: e tudo é terminado.

          O Tesouro de Brunetto era uma enciclopédia que começou a escrever antes do nascimento de Dante, englobando todos os conhecimentos da época, como Matemática, Astronomia, Música, Geometria, Ética, Teologia, História Natural, Filosofia...

          Portanto, Brunetto tinha conhecimento dos estudos de Ptolomeu da Alexandria que viveu no século II. 

          Neste século, o Cruzeiro do Sul era observado um pouco acima de Alexandria e constava do catálogo de estrelas feito por Ptolomeu.

Hoje, com a precessão dos equinócios, esta constelação é observada um pouco acima do Trópico do Câncer. 

          Portanto, a Divina Comédia contém muitas informações a serem decifradas por uma leitura atenta, a par de sua beleza literária. 

 

Referências:

- A Divina Comédia, Dante Alighieri, tradução e notas por Cristiano Martins.  Editora Itatiaia Limitada, Belo Horizonte, 1984.

- História, Heródotos, tradução do Grego e notas por Mário da Gama Kury.  Editora Universidade de Brasília, Brasília, 1985.

- A Ciência na Idade Média, Latino Coelho.  Guimarães Editores, Lisboa, 1988.

Teócrito Abritta, março de 2022. 

 


segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

A Janela Mineira

 


A Janela Mineira.  Santa Bárbara – MG, 2013. ©

 

 

A branca nitidez do ferro duro

nos acolhedores verdes limites da moldura.

 

Contraponto entre este mundo

onde muitos falam tanto e não dizem nada

e o silêncio da Natureza?

 

Possibilidades Impossibilidades Simbolismos?

Não seria o Coração a janela da Alma?

 

Mas uma janela é sempre uma janela

só pelo fato de ser uma janela.

 

Esta, porém, é pequenina, elegante

com direito a tudo que você imaginar

tudo mais que o silêncio possa contar

tudo que sua Poesia pedir

longe de todos

neste cantinho de olhar.

 

Nos encantos de ruas mineiras

meu segredo Poético-Sentimental

roteiro revelado.

A grande Arte de fazer artes...

 


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Portas da Percepção


... e o milagre do inteiro se desabrochou

da existência, em toda a sua nudez.

Aldous Huxley in Portas da Percepção.

Oito letras sete estrelas

o anel celeste a cintilar

sete véus a romper

segredos a penetrar.

 

Ardor e prazer

desejo a desejar

veludo a acolher

muita água pouco mar.

 

Chaves que trancam

aldrabas que batem

albarda labarda badalar.

 

Ferrolho que suspira

porta que geme

alma que se despe.


Aldraba.  Sabará, MG.  Foto Marilene Teixeira, 2011.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Sabores Mineiros


Prezada mui gentil

clássica elegante

senhora.

 

Lábios molhados

água na boca

aprecio seu falar.

 

Imaginária lambidinha

nesta fofinha rosquinha

(de polvilho).

 

Desejos de beliscar

a quente broinha

(de fubá).

 

Comer seu queijinho

com goiabada pra festejar.




 

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Algumas observações em rochas vulcânicas


          Nas fotos 1 e 2 apresentamos os dois lados de uma rocha vulcânica com aproximadamente 18 cm em sua maior dimensão.

          Como podemos observar, algumas rochas vulcânicas apresentam pequenas cavidades esféricas ou de outras formas, originadas pela expansão dos gases durante a sua efusão. Quando estas cavidades estão vazias são chamadas de vesículas.  Quando preenchidas por minerais secundários são chamadas de amígdalas.

Foto 1

Foto 2


sábado, 6 de novembro de 2021

Poema Emily Dickinson


A Face que deixamos a nos representar –

Nem que seja por um Dia

Como por Cem Anos, ausente fica

Quando se distancia

 

Tradução Teócrito Abritta


Mar Absoluto.  Óleo sobre tela, Humberto Carneiro Ribeiro, 2004.

Foto T.Abritta, 2005.