segunda-feira, 24 de abril de 2017

O Emparedado


          Não! Não! Não! Não transporás os pórticos milenários da vasta edificação do Mundo, porque atrás de ti e adiante de ti não sei quantas gerações foram acumulando, acumulando pedra sobre pedra, pedra sobre pedra, que para aí estás agora o verdadeiro emparedando de uma raça.
          Se caminhares para a direita baterás e esbarrarás ansioso, aflito, numa parede horrendamente incomensurável! − de Egoísmos e Preconceitos! Se caminhares para a esquerda, outra parede, de Ciências e Críticas, mais alta do que a primeira, te mergulhará profundamente no espanto! Se caminhares para a frente, ainda nova parede, feita de Despeitos e Impotências, tremenda, de granito, broncamente se elevará ao alto! Se caminhares, enfim, para trás, ah! ainda, uma derradeira parede, fechando tudo, fechando tudo − horrível! − parede de Imbecilidade e Ignorância, te deixará num frio espasmo de terror absoluto.
          E, mais pedras, mais pedras se sobreporão às pedras já acumuladas,
mais pedras, mais pedras. Pedras destas odiosas, caricatas e fatigantes Civilizações e Sociedades. Mais pedras, mais pedras! E as estranhas paredes hão de subir, longas, negras, terríficas! Hão de subir, subir, subir mudas, silenciosas, até as Estrelas, deixando-te para sempre perdidamente alucinado e emparedado dentro do teu Sonho.
Cruz e Souza.


Emparedado. Foto T.Abritta, 2010.


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